Algumas pesquisas indicam que até dois terços das mulheres com endometriose já apresentam os primeiros sintomas da doença durante a adolescência. No entanto, muitas vezes sintomas como dor pélvica e menstruação dolorosa são poucos valorizados ou confundidos com outras causas, levando a um atraso de até 11 anos no diagnóstico da doença. Assim, temos a faixa etária entre 25 e 35 anos como a mais comum no diagnóstico da endometriose.
Neste artigo, vamos falar sobre endometriose na adolescência, tirando as principais dúvidas sobre o assunto.
O que é endometriose?
Endometriose é uma condição ginecológica na qual o tecido que normalmente reveste o útero, conhecido como endométrio, cresce fora dele. Isso pode ocorrer em outros órgãos pélvicos, como os ovários, trompas de falópio e tecidos circundantes. Durante o ciclo menstrual, esse tecido fora do útero também sangra, mas como não há uma maneira fácil de o sangue deixar o corpo, pode ocorrer inflamação, dor intensa, formação de cicatrizes e, em alguns casos, complicações graves de saúde reprodutiva.
Quais os sintomas da endometriose na adolescência?
Os sintomas da endometriose na adolescência podem variar, mas os mais comuns incluem:
- Dismenorreia: cólicas menstruais intensas e debilitantes que podem começar antes do início da menstruação e durar vários dias.
- Dor pélvica crônica: dor persistente na região pélvica, mesmo fora do período menstrual.
- Dor durante a evacuação ou micção: especialmente durante a menstruação.
- Dor durante ou após a relação sexual: o que pode ser um sintoma precoce em adolescentes sexualmente ativas.
- Fluxo menstrual intenso: menorragia, com sangramento menstrual muito intenso ou prolongado.
- Problemas gastrointestinais: incluindo dor abdominal, inchaço, diarreia ou constipação, especialmente durante a menstruação.
- Fadiga: cansaço constante que pode estar associado à dor crônica e ao desconforto.
- Problemas urinários: frequência ou urgência para urinar, especialmente durante a menstruação.
Como é feito o diagnóstico da endometriose na adolescência?
O diagnóstico da endometriose na adolescência pode ser desafiador devido à natureza variada dos sintomas. O processo geralmente inclui as seguintes etapas:
– Histórico médico completo: o médico coleta um detalhado histórico de saúde, incluindo a descrição dos sintomas, seu início, duração e intensidade. Assim, é comum que o ginecologista também pergunte sobre o ciclo menstrual, histórico familiar de endometriose e outros problemas ginecológicos.
– Exame físico e pélvico: embora um exame pélvico possa ser difícil em adolescentes, ele ajuda a identificar áreas de dor e anormalidades. Em alguns casos, pode ser necessário um exame retal para avaliar a presença de nódulos dolorosos.
– Ultrassonografia: realiza-se a ultrassonografia pélvica transvaginal para visualizar cistos ovarianos associados à endometriose, conhecidos como endometriomas. No entanto, pequenos focos de endometriose podem não ser detectados por ultrassom.
– Ressonância magnética (RM): uma RM fornece imagens detalhadas da pelve e ajuda a identificar a extensão da endometriose, especialmente em áreas difíceis de visualizar com ultrassonografia.
– Laparoscopia: este é o método definitivo para diagnosticar a endometriose. Trata-se de um procedimento cirúrgico minimamente invasivo em que o médico insere uma câmera através de uma pequena incisão no abdômen para visualizar diretamente os órgãos pélvicos. Dessa forma, se focos de endometriose forem encontrados, podem ser removidos ou tratados durante a mesma cirurgia.
– Biópsia: durante a laparoscopia, pode ser realizada uma biópsia de tecido para confirmar a presença de endometriose através de exame histológico.
Como controlar os sintomas da endometriose na adolescência?
Várias abordagens podem ser adotadas para controlar os sintomas da endometriose na adolescência, incluindo tratamentos médicos, mudanças no estilo de vida e, em casos mais graves, intervenções cirúrgicas. Aqui, algumas dessas opções:
Medicamentos para dor
Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) podem ajudar a aliviar a dor menstrual e pélvica.
Terapias hormonais
Pílulas anticoncepcionais, adesivos, aneis vaginais, dispositivos intrauterinos (DIU) com progesterona e injeções de progestina podem ajudar a reduzir ou eliminar a menstruação, o que pode diminuir ou suprimir os sintomas da endometriose.
Mudanças na dieta
Algumas adolescentes podem encontrar alívio dos sintomas com uma dieta anti-inflamatória, rica em frutas, vegetais, grãos integrais e gorduras saudáveis, enquanto evitam alimentos processados, açúcar refinado e laticínios.
Exercícios físicos regulares
Atividade física ajuda a reduzir a dor e melhorar o bem-estar geral. Exercícios como caminhada, natação e yoga são particularmente benéficos.
Suporte psicológico
Participar de grupos de apoio e conversar com outras meninas e mulheres que sofrem com o problema é benéfico para lidar com o impacto emocional e psicológico da endometriose.
Tratamentos cirúrgicos
Em casos graves, a laparoscopia é indicada para remover ou destruir focos de endometriose, cistos ovarianos e aderências. Esta cirurgia pode proporcionar alívio significativo da dor e melhorar a qualidade de vida.
Monitoramento regular
Consultas regulares com um ginecologista são importantes para monitorar a condição e ajustar o tratamento conforme necessário.
Vale lembrar que o controle dos sintomas é muitas vezes um processo contínuo e pode exigir uma combinação de diferentes abordagens para encontrar o alívio mais eficaz.
A cirurgia da endometriose na adolescência
A cirurgia da endometriose na adolescência, geralmente realizada por meio de laparoscopia, é considerada quando os sintomas são graves e não respondem adequadamente ao tratamento medicamentoso. Trata-se de um procedimento minimamente invasivo no qual o cirurgião faz pequenas incisões no abdômen e insere uma câmera para visualizar diretamente os órgãos pélvicos. Durante a cirurgia, o ginecologista pode remover ou destruir focos de endometriose, cistos ovarianos e aderências, proporcionando alívio significativo da dor e melhorando a qualidade de vida da adolescente.
Embora a laparoscopia ofereça alívio dos sintomas, é importante considerar os potenciais riscos e benefícios, além de discutir as expectativas com um ginecologista. Assim, a decisão de operar deve ser avaliada levando em conta a idade da paciente, a gravidade dos sintomas, e o impacto na sua vida diária.
Como se preparar para a consulta ginecológica
Preparar-se para uma consulta ginecológica quando há suspeita de endometriose pode ajudar a garantir um diagnóstico mais preciso e um plano de tratamento eficaz. Aqui estão algumas dicas sobre como se preparar:
Registre seus sintomas
Mantenha um diário dos seus sintomas, incluindo a localização, intensidade, duração e frequência da dor. Além disso, anote qualquer relação com o seu ciclo menstrual, atividade física, alimentação ou outras atividades.
Histórico médico
Reúna informações sobre seu histórico médico, incluindo doenças passadas, cirurgias, condições médicas crônicas e histórico familiar de endometriose ou outras condições ginecológicas.
Lista de medicamentos
Faça uma lista de todos os medicamentos que você está tomando, incluindo doses e frequência. Não se esqueça de anotar também possíveis suplementos e remédios naturais.
Perguntas para o médico
Prepare uma lista de perguntas para fazer ao ginecologista, como opções de tratamento, possíveis efeitos colaterais dos medicamentos, recomendações de estilo de vida e informações sobre como a endometriose pode afetar a fertilidade.
Documentação prévia
Se você já passou por exames anteriores, como ultrassonografias ou ressonâncias magnéticas, leve os resultados para a consulta. Isso ajuda o médico a ter uma visão completa do seu caso.
Acompanhamento
A partir dos 12 anos, a adolescente já pode ir à consulta sozinha. No entanto, considere levar uma amiga ou familiar com você. Assim, essa pessoa pode oferecer apoio emocional, ajudar a lembrar de informações importantes e tomar notas durante a conversa.
Seja honesta
Quanto mais informações detalhadas você fornecer, melhor o médico poderá avaliar sua condição e propor um plano de tratamento adequado. Lembre-se que o ginecologista não pode contar as informações que você compartilha com ele para ninguém sem a sua autorização (a não ser nos casos em que sua saúde está em risco, ou você pode estar colocando a saúde de outra pessoa em risco).
Seguindo essas dicas, você estará mais bem preparada para a consulta ginecológica, ajudando o médico a diagnosticar a endometriose com maior precisão e iniciar um tratamento eficaz.
Tem outras perguntas sobre endometriose na adolescência? Deixe sua dúvida por aqui ou no meu Instagram (@dr.rodrigoferrarese).
Um beijo,
Dr. Rodrigo Ferrarese
Médico ginecologista e obstetra
CRMSP 149403
RQE 70017